terça-feira, 9 de outubro de 2012



Capítulo Dois

MINHA MÃE E EU VIVÍAMOS EM UMA FRIA casa de fazenda do século dezoito no limite de Coldwater. É a única casa na Alameda Hawthorne, e os vizinhos mais próximos estão há quase 1,6 quilômetros de distância. Às vezes me pergunto se o construtor original percebeu que de todos os pedaços de terra disponíveis, ele decidiu construir a casa no olho de uma misteriosa inversão atmosférica que parece sugar toda a névoa da costa do Maine e transplantá-la no nosso jardim. A casa estava nesse momento velada por uma melancolia que lembrava espíritos que escaparam e estão vagando.Eu passei a noite plantada em um banquinho de bar na cozinha na companhia da lição de álgebra e Dorothea, nossa governanta. Minha mãe trabalha para a Empresa de Leião Hugo Renaldi, coordenando leilões imobiliários e de antiguidades em toda a costa oeste. Essa semana ela estava em Charleston, Carolina do Sul. Seu trabalho requeria muitas viagens, e ela pagava Dorothea para cozinhar e limpar, mas eu estava bem certa de que as letras miúdas da descrição do trabalho da Dorothea incluíam manter um olho observador e parental em mim.
“Como foi a escola?”
Dorothea perguntou com um ligeiro sotaque alemão.Ela estava de pé na cozinha, esfregando lasanha cozida demais de uma caçarola.
“Tenho um novo parceiro de biologia.”

“Isso é uma coisa boa, ou uma coisa ruim?”

“Vee era a minha antiga parceira.”

“Humpf.”
Mais esfregação vigorosa, e a carne na parte superior do braço de Dorothea sacolejou.
“Uma coisa ruim, então.”
Eu suspirei em concordância.
“Me conte sobre a sua nova parceira. Essa garota, como ela é?”
“Ele é alto, moreno, e irritante.”
E misteriosamente fechado. Os olhos de Patch eram órbitas negras. Retendo tudo e retornando nada. Não que eu quisesse saber mais sobre o Patch. Já que eu não tinha gostado do que eu tinha visto na superfície, eu duvidava de que eu gostaria do que estivesse espreitando lá no fundo.Só que, isso não era exatamente verdade. Eu tinha gostado  muito do que eu tinha visto. Músculos longos e magros em seus braços, ombros largos, mas relaxados, e um sorriso que era parcialmente brincalhão, parcialmente sedutor.
 Eu estava em uma aliança incômoda comigo mesma, tentando ignorar o que começara a parecer irresistível.Às nove horas, Dorothea terminou o jantar e trancou a casa ao sair. Como forma de adeus, eu pisquei as luzes da varanda duas vezes; elas devem deve ter penetrado a névoa, porque ela respondeu com uma buzina. Eu estava sozinha.Eu fiz um inventário dos sentimentos brincando dentro de mim. Eu não estava com fome. Eu não estava cansada. Eu não estava nem mesmo tão solitária. Mas eu
estava um pouco inquieta sobre a minha tarefa de biologia. Eu tinha dito ao Patch que eu não ligaria, e seis horas atrás eu tinha falado sério.Tudo em que eu podia pensar agora era que eu não queria falhar. Biologia era a minha matéria mais difícil. Minha nota oscilava problematicamente entre 9 e 8.Na minha mente, essa era a diferença entre uma bolsa de estudos integral e parcial no meu futuro.Eu fui para a cozinha e peguei o telefone. Eu olhei para o que tinha sobrado dos sete números ainda tatuados na minha mão. Secretamente, eu esperava que o Patch não atendesse a minha ligação. Se ele não estivesse disponível ou cooperasse nas tarefas, era uma evidência que eu podia usar contra ele para convencer o Treinador a desfazer o mapa de assentos. Sentindo-me esperançosa, eu digitei seu número.Patch respondeu no terceiro toque.
“E aí?”
Em um tom prosaico, eu disse,
“Estou ligando para ver se podemos nos encontrar hoje à noite. Eu sei que você disse que está ocupado, mas–”
“Nora.”
Patch disse meu nome como se fosse a parte final de uma piada.
“Achei que você não fosse ligar. Nunca.”
Eu odiava estar comendo as minhas palavras. Eu odiava o Patch por estar esfregando-as. Eu odiava o Treinador por suas tarefas enlouquecedoras. Eu abri minha boca, esperando que algo inteligente saísse.
“Bem, podemos nos encontrar ou não?”
“Acontece que eu não posso.”
“Não pode ou não vai?”
“Estou no meio de um jogo de sinuca.”
Eu ouvi o sorriso em sua voz.
“Um jogo de sinuca importante.”
Pelo barulho de fundo que eu ouvi em sua linha, eu acreditava que ele estava dizendo a verdade – sobre o jogo de sinuca. Se isso era mais importante que a minha tarefa de biologia, era debatível.
“Onde você está?”
eu perguntei.
“Bo's Arcade. Não é o seu tipo de lugar.”
“Então vamos fazer a entrevista no telefone. Eu tenho uma lista de perguntas bem–”
Ele desligou na minha cara.Eu encarei o telefone em descrença, então arranquei uma folha de papel em branco do meu caderno. Eu rabisquei Babaca na primeira linha. Na linha abaixo dessa eu acrescentei
Fuma charutos. Vai morrer de câncer de pulmão.Com sorte logo. Excelente forma física.
Eu imediatamente risquei a última observação até que ficasse ilegível.O relógio do micro-ondas piscava 21:05. Da minha perspectiva, eu tinha duas escolhas. Ou eu inventava minha entrevista com o Patch, ou eu dirigia até a Bo's Arcade. A primeira opção podia ter sido tentadora, se ao menos pudesse bloquear a voz do Treinador alertando que ele checaria todas as respostas para autenticidade. Eu não conhecia o suficiente sobre Patch para blefar a entrevista inteira. E a segunda opção? Nem mesmo remotamente tentadora.Eu atrasei tomar uma decisão tempo o bastante para ligar para minha mãe.Parte do nosso acordo para ela trabalhar e viajar tanto era que eu agisse responsavelmente e não fosse o tipo de filha que requisitasse supervisão constante. Eu gostava da minha liberdade, e eu não queria fazer nada para dar à minha mãe uma razão para cortar seu salário e pegar um trabalho local para ficar de olho em mim.No quarto toque, seu correio de voz atendeu.
“Sou eu,” eu disse.
“Só estou checando. Tenho lição de biologia para terminar, depois eu vou para a cama. Me ligue no almoço, se você quiser. Te amo.”
Depois de desligar, eu achei uma moeda de 25 centavos na gaveta da cozinha. É melhor deixar decisões complicadas para o destino.
“Cara eu vou,”
eu disse ao
perfil de George Washington. “Coroa eu fico.”
Eu joguei a moeda de 25 centavos no ar, achatei-a nas costas da minha palma, e ousei dar uma espiada. Meu coração espremeu uma batida extra, e eu disse amim mesma que eu não tinha certeza o que isso significava.
“Não está mais nas minhas mãos agora,”
eu disse.Determinada a acabar com isso o mais rápido possível, eu agarrei um mapa da geladeira, apanhei minhas chaves, e recuei meu Fiat Spider pela estrada. O carro provavelmente fora fofo em 1979, mas eu não era louca pela pintura marrom chocolate, pela ferrugem se espelhando desenfreada pelo para-choque traseiro, ou pelos assentos arrebentados de couro branco.A Bo's Arcade acabou sendo mais longe do que eu teria gostado, aninhada perto à costa, uma viagem de trinta minutos. Com o mapa esticado no volante, eu parei o Fiat em um estacionamento atrás de um amplo prédio de blocos cinzas com uma placa elétrica piscando BO'S ARCADE, MAD BLACK PAINTBALL & OZZ’S POOL HALL. Grafite salpicava as paredes, e butucas de cigarro pontuavam
a calçada. Claramente o Bo's estaria cheio de futuros estudantes da Ivy League*7 e cidadãos modelo. Eu tentei manter meus pensamentos altivos e indiferentes,mas meu estômago estava um pouco inquieto. Checando novamente se eutinha trancado todas as portas, eu me dirigi para dentro.Eu fiquei na fila, esperando passar pelas cordas. Enquanto o grupo à minha frente pagava, eu passei me espremendo, andando na direção do labirinto de sirenes estrondeantes e das luzes piscantes.
“Acha que merece um passe grátis?”
gritou uma voz rouca de fumaça.Eu me virei e pestanejei para o caixa excepcionalmente tatuado. Eu disse,
“Não estou aqui para brincar. Estou procurando por alguém.”
Ele resmungou.
“Se quiser passar por mim, tem que pagar.”
Ele colocou suas palmas sobre o balcão, onde uma tabela de preços tinha sido colada com durex, mostrando que eu devia quinze dólares. Somente dinheiro.Eu não tinha dinheiro. E se eu tivesse, eu não teria desperdiçado-o gastando uns poucos minutos interrogando o Patch sobre sua vida pessoal. Eu senti um fluxo de raiva pelo mapa de assentos e por ter que estar aqui em primeiro lugar.Eu só precisava achar o Patch, então poderíamos assegurar a entrevista do lado de fora. Eu não tinha dirigido até aqui para ir embora de mãos vazias.
“Se eu não voltar em dois minutos, eu pago os quinze dólares,”
eu disse.Antes que eu pudesse exercitar um melhor julgamento ou reunir um rico mais de coragem, eu fiz algo totalmente fora do normal e me abaixei por debaixo das cordas. Eu não parei lá. Eu me apressei pela arcada, mantendo meus olhos abertos pelo Patch. Eu disse a mim mesma que não conseguia acreditar que estava fazendo isso, mas eu era como uma bola de neve rolante, ganhando velocidade e ímpeto. Nesse momento eu só queria achar o Patch e cair fora.O caixa me seguiu, gritando,
“Ei!”
Certa de que o Patch não estava no nível principal, eu corri escada abaixo,
seguindo placas para o Ozz’ Pool Hall. Ao fim da escada, uma trilha de
iluminação turva iluminava diversas mesas de pôquer, todas em uso. Fumaça de charuto quase tão grossa quanto à névoa envolvendo a minha casa escurecia o teto baixo. Aninhada entre as mesas de pôquer e o bar estava uma fileira de mesas de sinuca. Patch estava esticado na que ficava transversalmente a mim,tentando uma difícil tacada de mestre.
“Patch!”
eu chamei.Bem quando eu falei, ele atirou seu taco de sinuca, impulsionando-o no topo da mesa. Sua cabeça levantou-se rapidamente. Ele me encarou com uma mistura de surpresa e curiosidade.O caixa claudicou os passos atrás de mim, mirando no meu ombro com sua mão.
“Para cima. Agora.”
A boca de Patch se deslocou em outro quase sorriso. Difícil dizer se era zombador ou amigável.
“Ela está comigo.”
Isso pareceu ter alguma influência com o caixa, que relaxou seu aperto.Antes que ele pudesse mudar de ideia, eu retirei sua mão e contorci-me entre as mesas na direção de Patch. Eu andei os primeiros diversos passos a passos largos, mas descobri minha confiança escorregando quando mais perto eu chegava dele.Eu fiquei imediatamente consciente de algo diferente nele. Eu não conseguia exatamente afirmar o que, mas eu podia sentir isso como eletricidade. Mais animosidade?Mais confiança.Mais liberdade de ser ele mesmo. E aqueles olhos negros estavam me incomodando. Eles eram como imãs, unindo-se a cada movimento meu. Eu engoli em seco discretamente e tentei ignorar o enjoativo sapateado no meu estômago. Eu não conseguia exatamente afirmar o que, mas algo em Patch não era correto. Algo nele não era normal. Algo não era... seguro.
“Desculpe por ter desligado,”
Patch disse, vindo ao meu lado.
“A recepção não é boa aqui embaixo.”
É, tá bom.Com uma inclinação de sua cabeça, Patch gesticulou para que os outros fossem embora. Houve um silêncio inquietante antes que qualquer um se movesse. O primeiro cara a sair bateu no meu ombro enquanto passava. Eu dei um passo para trás para me equilibrar e olhei para cima bem em tempo de receber olhares frios de outros dois jogadores enquanto eles partiam.Ótimo. Não era
minha culpa que Patch era meu parceiro.
“Bola oito 8* ? ”
Eu perguntei a ele, levantando minhas sobrancelhas e tentando soar completamente certa de mim mesma, dos meus arredores.
Talvez ele estivesse certo e o Bo’s não fosse o meu tipo de lugar. Isso não queria
dizer que eu ia correr em direção às portas.
“Em quanto estão às apostas?”
Seu sorriso se alargou. Dessa vez eu estava bem certa de que ele estava zombando de mim.
“Nós não jogamos por dinheiro.”
Eu coloquei minha bolsa de mão na ponta da mesa.
“Que pena. Eu ia apostar tudo que eu tenho contra você.”
Eu levantei minha tarefa, duas linhas já preenchidas.
“Algumas rápidas perguntas e estou fora daqui.”

“Babaca?”
Patch leu em voz alta, inclinando-se sobre seu taco de sinuca.
“Câncer de pulmão? É pra isso ser profético?”
Eu ventilei a tarefa pelo ar.
“Assumo que você contribuiu para a atmosfera.Quantos charutos por noite? Um? Dois?”

“Eu não fumo.”
Ele soava sincero, mas eu não engolia.
“Mm-hmm,”
eu disse, deixando o papel de lado entre a bola oito e a roxa sólida. Eu acidentalmente acotovelei a roxa sólida enquanto escrevia
Charutos,definitivamente na linha três.
“Você está bagunçando o jogo,”
Patch disse, ainda sorrindo.Eu captei seu olhar e não pude evitar igualar seu sorriso – brevemente.
“Com sorte não em seu favor. Maior sonho?”
Eu estava orgulhosa dessa porque sabia que iria aturdi-lo. Ela requeria premeditação.
“Beijar você.”

“Isso não é engraçado,”
eu disse, segurando seus olhos, grata por não ter gaguejado.
“Não, mas fez você corar.”
Eu me empurrei para o lado da mesa, tentando parecer apática enquanto fazia isso. Eu cruzei minhas pernas, usando meu joelho como uma tábua para escrever.
“Você trabalha?”

“Eu sirvo mesas no Borderline. O melhor restaurante mexicano da cidade.”

“Religião?”
Ele não pareceu surpreso pela pergunta, mas ele não pareceu radiante com ela tampouco.
“Eu pensei que você tivesse dito algumas rápidas perguntas.Você já está na número quatro.”

“Religião?”
eu perguntei mais firmemente.Patch arrastou uma mão pensativamente pela linha de sua mandíbula.
“Religião não... culto.”

“Você pertence a um culto?”
Eu percebi tarde demais que, embora eu soasse surpresa, eu não deveria ter.

“Acontece que eu estou precisando de um sacrifício feminino saudável. Eu planejava seduzi-la para que confiasse em mim primeiro, mas se você está pronta agora...”
Qualquer sorriso restante no meu rosto desapareceu.
“Você não está me impressionando.”

“Eu não comecei a tentar ainda.”
Eu me debrucei da mesa e fiquei de pé encarando-o. Ele era uma cabeça inteira mais alto.
“Vee me disse que você é um veterano. Quantas vezes você reprovou em biologia do segundo ano? Uma vez? Duas vezes?”

“Vee não é minha porta-voz.”

“Está negando ter reprovado?”

“Estou te dizendo que eu não fui para a escola ano passado.”
Seus olhos me zombaram... Isso só me deixou mais determinada.
“Você é uma cabulador?”
Patch deitou seu taco de sinuca no topo da mesa e curvou um dedo para mim chegar mais perto. Eu não cheguei.
“Um segredo?”
ele disse em tons confidenciais.
“Eu nunca fui pra escola antes. Outro segredo? Não é tão chato quando eu esperava.”
Ele estava mentindo. Todos iam para a escola. Havia leis. Ele estava mentindo para tirar alguma resposta de mim.
“Você acha que eu estou mentindo,”
ele disse em volta de um sorriso.
“Você nunca foi para a escola, nunca? Se isso for verdade – e você está certo, eu não acho que seja – o que fez você decidir vir esse ano?”

“Você.”
O impulso de me sentir assustada golpeou-me, mas eu disse a mim mesma que era exatamente isso que Patch queria. Marcando meu território, eu tentei agir irritada, ao invés. Ainda assim, levei um momento para achar minha voz.
“Essa não é uma resposta de verdade.”
Ele deve ter dado um passo para mais perto, porque de repente nossos corpos estavam separados por nada mais do que uma superficial margem de ar.
“Seus olhos, Nora. Esses olhos cinzas frios e pálidos são surpreendentemente irresistíveis.”
Ele curvou sua cabeça de lado, como se para me estudar de um novo ângulo.
“E essa boca curvilínea assassina.”
Espantada não tanto pelo comentário dele, mas pela parte de mim que respondeu positivamente a ele, eu recuei.
“Já chega. Vou cair fora daqui.”
Mas assim que as palavras saíram da minha boca, eu sabia que elas não eram verdadeiras. Eu senti o desejo de dizer algo mais. Selecionando os pensamentos emaranhados na minha cabeça, eu tentei achar o que era que eu sentia que devia dizer. Por que ele era tão irrisório, e por que ele agia como se eu tivesse feito algo para merecer isso?
“Você parece saber muito sobre mim,”
eu disse, fazendo a atenuação do ano.
“Mais do que você deveria. Você parece saber exatamente o que dizer para me deixar desconfortável.”

“Você facilita.”
Uma faísca de raiva disparou por mim.
“Você admite que está fazendo isso de propósito?”

“Isso?”

“Isso – me provocando.”

“Diga ‘provocando’ novamente. Sua boca fica provocativa quando você faz
isso.”

“Acabamos aqui. Termine seu jogo de sinuca.”
Eu agarrei seu taco de sinucada mesa e empurrei para ele. Ele não pegou-o.
“Eu não gosto de sentar do seu lado,”
eu disse.
“Eu não gosto de ser sua parceira. Eu não gosto do seu sorriso condescente.”
Minha mandíbula tremeu – algo que tipicamente acontecia quando eu mentia. Eu me perguntei se eu estava mentindo agora. Se eu estivesse, eu queria me chutar.
“Eu não gosto de você,”
eu disse o mais convincentemente que consegui, e enfiei o taco contra seu peito.
“Estou feliz pelo Treinador nos ter colocado juntos,”
ele disse. Eu detectei uma leve ironia na palavra
“Treinador”,
mas eu não consegui descobrir nenhum significado escondido. Dessa vez ele pegou o taco de sinuca.
“Estou trabalhando para mudar isso,”
eu reagi.Patch achou que isso era tão engraçado que seus dentes apareceram em seu sorriso. Ele se esticou até mim, e antes que eu pudesse me afastar, ele desembaraçou algo do meu cabelo.
“Pedaço de papel,”
ele explicou, jogando-o no chão. Enquanto ele esticava sua mão, eu notei uma marca na parte interna do seu pulso. De primeira eu presumi que fosse uma tatuagem, mas um segundo olhar revelou um marrom rubicundo, uma marca de nascença ligeiramente levantada. Era da forma de um pingo de tinta esparramado.
“Que lugar infeliz para uma marca de nascença,”
eu disse, mais do que um pouco enervada por estar tão similarmente posicionada à minha própria cicatriz.Patch casual e notavelmente deslizou sua manga sobre seu pulso.
“Você
preferiria em algum lugar mais privado?”

“Eu não a preferiria em qualquer outro lugar.”
Eu não estava certa de comisso soava e tentei novamente.
“Eu não ligaria se você nem ao menos a tivesse.”
Eu tentei uma terceira vez.
“Eu não ligo para a sua marca de nascença, ponto.”

“Mais perguntas?” ele perguntou.
“Comentários?”
“Não.”
“Então te vejo na aula de biologia.”
Eu pensei em dizer a ele que ele nunca me veria novamente. Mas eu não ia comer minhas palavras duas vezes em um dia.Mais tarde naquela noite um
crack!
me puxou do sono. Com meu rosto esmagado contra meu travesseiro, eu fiquei imóvel, todos os meus sentidos em alerta total. Minha mãe ficava fora da cidade pelo menos uma vez por mês por causa do trabalho, então eu estava acostumada a dormir sozinha, e fazia meses desde que eu tinha imaginado o som de passos rastejando pelo corredor na direção do meu quarto. A verdade era que eu nunca me sentia completamente sozinha. Logo depois do meu pai ter sido atirado até a morte em Portland enquanto comprava um presente de aniversário para a minha mãe, uma presença estranha entrou na minha vida. Como se alguém estivesse orbitando meu mundo, observando de longe. De primeira a presença fantasmagórica tinha me apavorado, mas quando nada de ruim sucedeu disso, minha ansiedade perdeu sua animação. Eu comecei a me perguntar se havia um propósito cósmico para a maneira como eu estava me sentindo. Talvez o espírito do meu pai estivesse por perto. O pensamento era geralmente confortante, mas hoje anoite era diferente. A presença parecia gelo na pele.Virando a minha cabeça uma fração, eu vi uma forma sombreada se esticando pelo meu chão. Eu girei para ver um rosto na janela, o raio de luz transparente do luar a única luz no quarto capaz de jogar sombras. Mas nada estava lá. Eu apertei meu travesseiro contra mim e disse a mim mesma que era uma nuvem passando sobre a lua. Ou um pedaço de lixo soprando no vento.Ainda assim, eu passei os próximos minutos esperando minha pulsação se acalmar.Na hora que eu reuni coragem para sair da cama, o jardim abaixo da minha janela estava silencioso e imóvel. O único barulho vinha dos gravetos de árvore arranhando a casa, e do meu próprio coração batendo debaixo da minha pele.





7 Grupo de oito universidades privadas do Nordeste dos Estados Unidos da América. O grupo éconstituído pelas instituições de maior prestígio científico nos Estados Unidos e no mundo e, assim,atualmente a denominação tem conotação sobretudo de excelência acadêmica.
8 Jogo de bilhar americano que se disputa com as bolas da 1 a 15. Se ganha embolsando a bola 8 (negra),depois de ter encaçapado o grupo de bolas que corresponde a cada jogador, o da 1 a 7 ou da 10 a 15.Deve-se anunciar a bola que se introduzirá em cada tacada e a bolsa em que se fará

segunda-feira, 8 de outubro de 2012



Capítulo Um


Coldwater, Maine
Dias atuais

Eu entrei na aula de biologia e meu queixo caiu. Misteriosamente aderido ao quadro-negro estava uma boneca Barbie, com Ken ao seu lado. Eles foram forçados a dar os braços e estavam nus, exceto por folhas artificiais colocadas em alguns lugares específicos. Rabiscado acima de suas cabeças em giz grosso rosa estava a convocação:
BEM VINDOS À REPRODUÇÃO HUMANA (SEXO)
Ao meu lado, Vee Sky disse,
“É exatamente por isso que a escola proíbe câmeras de celular. Fotos disso no eZine seriam toda a evidência que eu precisaria para ir ao conselho da educação para remover biologia. E então teríamos essa hora para fazer algo produtivo
–como receber monitoramento particular de veteranos gracinhas.”

“Ora, Vee,”eu disse,“Eu podia jurar que você estava esperando essa unidade o semestre todo.”
Vee abaixou os cílios e sorriu maliciosamente.
“Essa aula não vai me ensinar nada que eu já não saiba.”

“Vee? Tipo, virgem?”

“Não tão alto.”
Ela piscou bem quando o sino tocou, mandando nós duas a nossos lugares, que eram lado a lado na nossa mesa compartilhada.O Treinador McConaughy agarrou o apito balançando de uma corrente ao redor de seu pescoço e o assoprou.
“Assentos, time!”
O Treinador considerava ensinar biologia do segundo ano uma missão secundária de seu trabalho como treinador de basquete escolar, e todos sabíamos disso.
“Vocês podem não ter percebido que sexo é mais do que uma viagem de quinze minutos ao banco traseiro do carro. É ciência. E o que é ciência?”

“Uma chatice,”
algum garoto no fundo da sala gritou.
“A única aula que eu estou reprovando,”
disse outro.Os olhos do Treinador examinaram a fileira da frente, parando em mim.
“Nora?”

“O estudo de alguma coisa,”eu disse.

Ele andou até aqui e enfiou seu dedo indicador na mesa na minha frente.
“Oque mais?”

“Conhecimento ganho através de experimentos e observações.”
Adorável.Eu soava como se estivesse fazendo um teste para um audiobook do nosso texto.
“Com suas próprias palavras.”
Eu toquei a ponta da minha língua com meu lábio superior e tentei um sinônimo.
“Ciência é uma investigação.”
Soava como uma pergunta.
“Ciência é uma investigação,”
o Treinador disse, esfregando suas mãos juntas.
“Ciência exigi que nós nos tranformemos em espiões.”
Colocado desse jeito, ciência quase soa divertido. Mas eu estivera na aulado Treinador tempo suficiente para não ter muitas esperanças.
“Uma boa investigação precisa de prática,”
ele continuou.
“Assim como sexo,”
veio outro comentário do fundo da sala. Todos nós engolimos a risada enquanto o Treinador apontava um dedo acusador para o transgressor.
“Isso não será parte da lição de casa de hoje a noite.”
O Treinador virou sua atenção de volta a mim.
“Nora, você está se sentando ao lado da Vee desde o começo do ano.”
Eu assenti, mas tinha um mau pressentimento sobre onde isso estava chegando.
“Ambas estão no eZine da escola juntas.”
Novamente eu assenti.
“Aposto que conhecem bastante uma sobre a outra.”
Vee chutou minha perna debaixo da nossa mesa. Eu sabia o que ela estava pensando. Que ele não fazia ideia do quanto conhecíamos uma sobre a outra. E eu não quero só dizer os segredos que enterramos em nossos diários. Vee é minha des-gêmea. Ela tem olhos verdes, cabelos loiro-marta*5, e alguns quilos acima de curvilínea. Eu sou uma morena de olhos esfumaçados com um volume de cabelo encaracolado que se mantém firme até mesmo contra a melhor chapinha. E sou só pernas, como um banquinho de bar. Mas há uma corda invisível que nos une; ambas juramos que esse laço começou bem antes do nascimento. Ambas juramos que continuará seguro pelo resto das nossas vidas.O Treinador deu uma olhada na sala.
“De fato, eu aposto que cada um de vocês conhece a pessoa sentando ao lado de você bem o bastante. Vocês escolheram os assentos que escolheram por uma razão, certo? Familiaridade.Que pena que os melhores detetives evitam familiaridade. Ela entorpece o instinto investigativo. E é por isso que, hoje, vamos criar um novo mapa de assentos.”
Eu abri minha boca para protestar, mas Vee chegou antes.
“Mas que porcaria? É abril. Tipo, quase o final do ano*6. 
Você não pode mexer nesse tipo de negócio agora.”
O Treinador deu um vestígio de sorriso.
“Eu posso mexer nesse negócio até o último dia do semestre. E se você reprovar na minha aula, você estará de volta aqui no ano que vem, onde eu estarei mexendo nesse tipo de negócio novamente.”
Vee fez uma carranca para ele. Ela é famosa por aquela carranca. É um olhar que faz tudo, exceto sibilar audivelmente. Aparentemente imune a ele, o Treinador trouxe seu apito aos lábios, e captamos a ideia.
“Cada parceiro sentado no lado esquerdo da mesa–
a esquerda de vocês–mova-se um assento para frente. Aqueles na fileira da frente
–sim, incluindo você, Vee–movam-se para os fundos.”
Vee enfiou seu caderno dentro de sua mochila e arrebentou o zíper ao fechar. Eu mordi meu lábio e acenei um pequeno adeus. Então eu me virei ligeiramente, checando a sala atrás de mim. Eu conhecia os nomes de todos os meus colegas de sala... exceto um. O transferido. O Treinador nunca o chamou,e ele parecia preferir desse jeito. Ele se sentava desleixadamente uma mesa atrás, gelados olhos negros encarando à frente firmemente. Exatamente como sempre. Eu nem por um momento acreditava que ele simplesmente sentava lá,dia após dia, encarando o vazio. Ele estava pensando algo, mas o instinto me dizia que eu provavelmente não queria saber o que.Ele assentou seu livro de biologia na mesa e deslizou na antiga cadeira da Vee .Eu sorri.
“Oi. Eu sou a Nora.”
Seus olhos negros me cortaram, e os cantos de sua boca inclinaram-se para cima. Meu coração errou uma batida e naquela pausa, um sentimento de triste escuridão pareceu deslizar como uma sombra sobre mim. Ele sumiu em um instante, mas eu ainda estava encarando-o. Seu sorriso não era amigável. Era um sorriso que soletrava encrenca. Como uma promessa.Eu me foquei no quadro negro. A Barbie e o Ken encararam de volta com sorrisos estranhamente alegres.O Treinador disse,
“Reprodução humana pode ser um assunto pegajoso–”

“Uiii!”
resmungou um coro de estudantes.
“É preciso um
manuseamento maduro. E como toda ciência, a melhor abordagem é aprender a investigar. Pelo resto da aula, pratiquem essa técnica descobrindo o quanto puderem sobre seu novo parceiro. Amanhã, tragam em escrito suas descobertas, e acreditem em mim, eu vou checar a autenticidade.Isso é biologia, não inglês, então nem pensem em ficcionalizar suas respostas.Eu quero ver interação e trabalho em equipe reais.”
Havia um Ou então implícito.Eu me sentei perfeitamente imóvel. A bola estava no campo dele–
eu tinha sorrido, e olha como isso ajudou. Eu enruguei meu nariz, tentando descobrir a que ele cheirava. Não a cigarros. Algo mais profundo, mais asqueroso.Charutos.Eu encontrei o relógio na parede e bati meu lápis na hora da segunda mão.Eu plantei meu cotovelo na mesa e apoiei meu queixo no meu punho. Eu soprei um suspiro.Ótimo. A esse ponto eu iria falhar.Eu estava com meus olhos fixos a frente, mas eu ouvi o suave deslizar de sua caneta. Ele estava escrevendo, e eu queria saber o que. Dez minutos sentados juntos não o qualificava para fazer qualquer suposição sobre mim.Movendo um olhar lateral, eu vi que seu papel tinha várias linhas escritas e estava crescendo.
“O que você está escrevendo?”
eu perguntei.
“E ela fala inglês,”
ele disse enquanto rabiscava, cada pincelada de sua mão suave e preguiçosa ao mesmo tempo.Eu me inclinei o mais perto dele que eu ousava, tentando ler o que mais ele tinha escrito, mas ele dobrou o papel ao meio, escondendo a lista.
“O que você escreveu?”
Eu exigi.Ele esticou a mão para o meu papel não-usado, deslizando-o pela mesa na direção dele. Ele o amassou em uma bola. Antes que eu pudesse protestar, ele o jogou numa lata de lixo ao lado da mesa do Treinador. O arremesso caiu dentro.Eu encarei a lata de lixo por um momento, presa entre a descrença e a raiva. Então eu abri meu caderno em uma página em branco.
“Qual é o seu nome?”
Eu perguntei, o lápis pronto para escrever.Eu olhei para cima a tempo de captar outro sorriso sombrio. Esse parecia me desafiar a arrancar qualquer coisa dele.
“Seu nome?”
Eu repeti, esperando que fosse minha imaginação minha voz ter vacilado.
“Me chama de Patch. Sério.
Me chama.”
Ele piscou quando disse isso, e eu estava bem certa de que ele estava me zoando.
“O que você faz nas suas horas de ócio?”
eu perguntei.
“Eu não tenho tempo livre.”
“Presumo que essa tarefa vale
nota, então me faz um favor?”
Ele se reclinou em seu assento, dobrando seus braços atrás de sua cabeça.
“Que tipo de favor?”
Eu tinha bastante certeza de que isso uma indireta, e eu lutei por um jeito de mudar de assunto.
“Tempo livre,”
ele repetiu pensativamente.
“Eu tiro fotos.”
Eu copiei
Fotografia
no meu papel.
“Eu não terminei,”
ele disse.
“Eu tenho uma bela coleção de uma colunistade eZine que acredita que há verdade em comer organicamente, que escreve poesia em segredo, e que estremece ao pensar em ter que escolher entre Stanford, Yale, e... qual é aquela grandona com H ?”
Eu o encarei por um momento, balançada por ele ter acertado
na mosca. 
Eu não tinha o pressentimento de que era um chute. Ele
sabia.
 E eu queria saber como – agora.
“Mas você não acabará indo para nenhuma delas.”

“Eu não irei?”
Eu perguntei sem pensar.Ele prendeu seus dedos debaixo do assento da minha cadeira, me arrastando para mais perto dele. Não certa se deveria escapar e mostrar medo,ou fazer nada e fingir tédio, eu escolhi o último.Ele disse,
“Embora você prosperasse nas três escolas, você as desdenha por serem um cliché em realização. Julgar é sua terceira maior fraqueza.”

“E minha segunda?”
Eu disse com bastante raiva. Quem era esse cara? Essa era algum tipo de piada perturbadora?
“Você não sabe como confiar. Eu retiro o que disse. Você confia
–só quenas pessoas erradas.”

“E o meu primeiro?”
Eu exigi.
“Você mantém a vida numa coleira curta.”

“O que isso quer dizer?”

“Você tem medo do que não consegue controlar.”
O cabelo na minha nuca ficou de pé, e a temperatura na sala pareceu esfriar. Normalmente eu teria ido diretamente para a mesa do Treinador e pedido um novo mapa de assentos. Mas eu me recusava a deixar Patch pensar que ele podia me intimidar ou assustar. Eu senti uma necessidade irracional de me defender e decidi bem ali e agora que eu não recuaria até que ele recuasse.
“Você dorme pelada?”
ele perguntou.Minha boca ameaçou cair, mas eu a segurei no lugar.
“Você está longe de ser a pessoa a quem eu contaria.”
“Já foi a um psiquiatra?”
“Não,”
eu menti. A verdade era que eu tinha consulta com o psicólogo da escola, Dr. Hendrickson. Não era por escolha, e não era algo que eu gostasse de falar sobre.
“Fez algo ilegal?”

“Não.”
Ocasionalmente passar do limite de velocidade não contaria. Não com ele.
“Por que você não me pergunta algo normal? Como... meu tipo favorito de música?”

“Eu não vou perguntar o que eu posso adivinhar.”

“Você não sabe o tipo de música que eu escuto.”

“Barroco. Com você, tudo é ordem, controle. Eu aposto que você toca...violoncelo?”
Ele disse isso como se tivesse chutado do nada.
“Errado.”
Outra mentira, mas essa enviou um arrepio pela minha pele que deixou meus dedos formigando. Quem era ele,realmente? Se ele sabia que eu tocava violoncelo, o que mais ele sabia?
“O que é isso?”
Patch deu um tapinha com sua caneta no interior do meu pulso. Instintivamente eu recuei.
“Uma marca de nascença.”

“Parece uma cicatriz. Você é suicida, Nora?”
Seus olhos se conectaram com os meus, e eu pude sentir ele rindo.
“Pais casados ou divorciados?”

“Eu moro com a minha mãe.”

“Onde está o pai?”

“Meu pai morreu ano passado.”

“Como ele morreu?”
Eu hesitei.
“Ele foi–assassinado. Esse é um território meio pessoal, se não se importa.”
Houve uma contagem de silêncio e a beirada dos olhos de Patch pareceu suavizar um pouco.
“Isso deve ser duro.”
Ele soava sério.O sino tocou e Patch estava de pé, caminhando em direção a porta.
“Espera,”
eu chamei. Ele não se virou.
“Com licença!”
Ele tinha passado pela porta.
“Patch! Eu não peguei nada sobre você.”
Ele se virou e andou na minha direção. Tomando minha mão, ele rabiscou algo nela antes de eu a puxar.Eu olhei para baixo para os sete números em tinta vermelha na minha palma e fechei a mão ao redor deles. Eu queria dizer a ele que de jeito nenhum seu telefone tocaria hoje a noite. Eu queria dizer a ele que era culpa dele por tomar todo o tempo me questionando. Eu queria um monte de coisas, mas eu só fiquei parada lá parecendo como se não soubesse abrir minha boca.Por fim eu disse,
“Estou ocupada hoje a noite.”
“Assim como eu.”
Ele sorriu e se foi.Eu fiquei pregada no lugar, digerindo o que tinha acabado de acontecer. Ele tinha comido todo o tempo me questionando de propósito? Para que eu
falhasse? Ele achava que um relampejo de sorriso o redimiria?
Sim, eu pensei. Sim, ele achava.

“Eu não vou ligar!”
Eu gritei depois dele.
“Não–nunca!”

“Você terminou a sua coluna para o prazo de amanhã?”
Era a Vee. Ele apareceu ao meu lado, anotando no caderno que ela carregava para todo lugar.
“Estou pensando em escrever a minha sobre a injustiça do mapa de assentos.Eu fiquei com uma garota que disse que tinha acabado um tratamento para piolho essa manhã.”

“Meu novo parceiro,”
eu disse, apontando no corredor para as costas de Patch. Ele tinha um andar irritantemente confiante, do tipo que você acha combinado com camisetas desbotadas e um chapéu de caubói. Patch não usava
nenhum dos dois. Ele era um garoto do tipo Levi’s
-escura-jaqueta-escura-botas-escuras.
“O veterano transferido? Acho que ele não estudou o bastante da primeira vez. Ou da segunda.”
Ela me deu um olhar astucioso.
“Na terceira ele tem sorte.”

“Ele me dá arrepios. Ele conhecia a minha música. Sem qualquer dica, ele
disse, ‘Barroco’.”
Eu fiz uma péssima imitação de sua voz baixa.
“Chute de sorte?”

“Ele sabia.... outras coisas.”

“Como o quê?”
Eu soltei um suspiro. Ele sabia mais do que eu queria contemplar confortavelmente.
“Tipo como me enlouquecer,”
eu disse por fim.
“Eu vou dizer ao Treinador que ele tem que nos trocar de volta.”

“Vai nessa. Eu podia ter um gancho para o meu próximo artigo no eZine.
‘Segunda-anista Defende-se.’ Melhor ainda, ‘Mapa de Assento Leva um Tapa na Cara.’ Hmm. Eu gostei.”
No final do dia, fui eu quem levou um tapa na cara. O Treinador recusou
meu pedido para repensar o mapa de assentos. Parecia que eu estava presa com o Patch.
Por ora.

5Marta é a denominação comum dado aos mamíferos mustelídeos do gênero Martes. Esses animais têm uma pele muito apreciada
6Nos EUA, o final do ano letivo é em junho/julho.

O garoto deu um chacoalhar preguiçoso de sua cabeça.
“Seu pai não era o antigo Duc.”
Chauncey ferveu com o afrontoso insulto.
“E o seu pai?”
ele exigiu,estendendo sua espada. Ele ainda não conhecia todos os seus vassalos, mas ele estava aprendendo. Ele marcaria o nome da família desse garoto a ferro na memória.
“Eu perguntarei mais uma vez,”
ele disse em uma voz baixa,esfregando uma mão pelo seu rosto para afastar a chuva.
“Quem é você?”
O garoto andou e empurrou de lado a espada. Ele de repente parecia mais velho do que Chauncey havia presumido, talvez até mesmo um ou dois anos mais velho do que Chauncey.
“Um dos descendentes do Diabo,”
ele respondeu.Chauncey sentiu um aperto de medo em seu estômago.
“Você é um lunático delirante,”
ele disse entre os dentes.
“Caia fora do meu caminho.”
O chão abaixo de Chauncey se inclinou. Explosões de dourado e vermelho estouraram atrás de seus olhos. Encurvado com suas unhas triturando suas coxas, ele olhou para o garoto, pestanejando e arfando, tentando achar sentido no que acontecia. Sua mente vacilava como se não fosse mais sua para comandar.O garoto se agachou para nivelar seus olhos.
“Escute cuidadosamente. Eu preciso de algo de você. Eu não irei embora até eu ter isso. Você entende?”
Cerrando seus dentes, Chauncey balançou sua cabeça para expressar sua descrença–seu desacato. Ele tentou cuspir no garoto, mas escorreu em seu queixo, sua língua recusando-se a obedecê-lo.O garoto entrelaçou suas mãos ao redor das de Chauncey; o calor delas queimou e ele soltou um grito.
“Eu preciso do seu juramento de lealdade,”
o garoto disse.
“Ajoelhe-se sobre um joelho e jure.”
Chauncey ordenou sua garganta a rir cruelmente, mas sua garganta constringiu e ele se afogou com o som. Seu joelho direito entortou como se tivesse sido chutado por trás, apesar de ninguém estar lá, e ele tropeçou para afrente na lama. Ele se curvou de lado e forçou vômito sem sucesso.
“Jure,”
o garoto repetiu.Calor fluiu no pescoço de Chauncey; precisou de toda a sua energia para curvar suas mãos em dois punhos fracos. Ele riu de si mesmo, mas não havia humor. Ele não fazia ideia de como, mas o garoto estava infligindo a náusea e a fraqueza dentro dele. Ela não seria suspensa até que ele prestasse o juramento.Ele diria o que tivesse que dizer, mas ele jurou em seu coração que destruiria o garoto por essa humilhação.
“Lorde, eu me torno seu homem,”
Chauncey disse venenosamente
O garoto levantou Chauncey de pé.
“Me encontre aqui no começo do mês hebreu de Cheshvan*3. Durante as duas semanas entre a lua nova e a cheia, eu precisarei de seu serviço.”
“Uma...quinzena?”
Toda a estrutura de Chauncey tremeu debaixo do peso de sua raiva.
“Eu sou o Duc de Langeais!”

“Você é um Nephil,”
o garoto disse em uma fatia de sorriso.Chauncey tinha uma réplica profana na ponta da língua, mas ele a engoliu.Suas próximas palavras foram ditas com gelado veneno.
“O que você disse?”

“Você pertence a raça bíblica dos Nephilim*4. Seu pai verdadeiro era um anjo que caiu do céu. Você é metade mortal.”
Os olhos escuros do garoto se levantaram, encontrando os de Chauncey.
“Metade anjo caído.”
A voz do tutor de Chauncey foi trazida dos recessos de sua mente, lendo passagens da Bíblia, contando de uma raça depravada criada quando anjos lançados do céu se acasalaram com mulheres mortais. Uma raça apavorante e poderosa. Um calafrio que não era repulsa total arrastou-se por Chauncey.
“Quem é você?”
O garoto se virou, afastando-se, e embora Chauncey quisesse ir atrás dele,ele não conseguia ordenar suas pernas a suportar seu peso. Ajoelhado ali,pestanejando através da chuva, ele viu duas cicatrizes grossas nas costas do torso nu do garoto. Elas se estreitavam para formar um V de ponta-cabeça.
“Você é um–caído?”
ele chamou.
“Suas asas foram arrancadas, não foram?”
O garoto–anjo–quem quer que ele fosse, não se virou. Chauncey não precisou da confirmação.
“O serviço que eu vou prover,”
ele gritou.
“Eu exijo saber o que é!”
O ar ressoou com a baixa risada do garoto.


3 Abreviação de Marcheshvan. É o oitavo mês do calendário hebraico,e normalmente cai entre outubro/novembro no calendário gregoriano
4 Do hebraico "aqueles que caíram".(anjos)

Prólogo
Loire Valley *1, França.

Novembro de 1565
Chauncey estava com a filha de um fazendeiro nos bancos relvados do rio Loire quando a tempestade começou, e tendo deixado seu cavalo castrado perambulando na clareira, foi deixado com seus dois próprios pés para levarem-no de volta ao château. Ele arrancou uma fivela prateada de seu sapato, a colocou na palma da mão da garota, e a observou sair correndo, lama afundando em sua saia. Então ele colocou suas botas e começou o caminho para casa.Chuva envolveu o campo escuro que cercava o Château de Langeais.Chauncey pisou sem dificuldade nas sepulturas e humus submersos do cemitério; mesmo na espessa névoa ele conseguia encontrar seu caminho para casa daqui e não temia se perder. Não havia névoa nenhuma hoje a noite, mas a escuridão e o ataque da chuva eram enganadores o bastante.Havia movimento na extremidade da visão de Chauncey, e ele virou instantaneamente sua cabeça para esquerda. Ao primeiro olhar, o que parecia ser um grande anjo no topo de um monumento próximo se levantou inteiramente. Nem pedra nem mármore, o garoto tinha braços e pernas. Seu torso estava nu, seus pés descalços, e uma calça de camponês pendia baixa em sua cintura. Ele pulou do monumento, as pontas de seu cabelo preto pingando da chuva. Ele escorregava no seu rosto, que era escuro como o de um espanhol.A mão de Chauncey arrastou-se para o punho de sua espada.
“Quem está aí?”
A boca do garoto deu um vestígio de sorriso.
“Não brinque com o Duc*2 de Langeais,” Chauncey avisou.
“Eu pedi o seu nome. Dê-o.”
“Duc?”
O garoto se inclinou contra um salgueiro retorcido.
“Ou bastardo?”
Chauncey desembainhou sua espada.
“Retire o que disse! Meu pai era oDuc de Langeais. Eu sou o Duc de Langeais agora,”
ele acrescentou desajeitadamente, e se amaldiçoou por isso.

1*O Vale de Loire, o rio mais longo da França. Também conhecido como Jardim da França e Berço da Lingua Francesa. Também é notável pela qualidade de sua herança arquitetural.
2*Do francês, duque.
                 
Esta na hora de nos apaixonarmos pelos anjos caídos também^^ Aproveitem a leitura♥

Se apaixonar nunca foi tão fácil... ou tão mortal!

Para Nora Grey, romance não fazia parte do plano. Ela nunca esteve particularmente atraída aos garotos de sua escola, não importa o quanto sua melhor amiga, Vee, a empurre em cima deles. Não até que Patch chegue.Com aquele sorriso fácil e olhos que parecem ver dentro dela,Nora fica atraída a ele contra sua vontade.Mas após uma série de aterrorizantes encontros, Nora não tem certeza em quem confiar. Patch parece estar em todo o lugar que ela está, e saber mais sobre ela do que seus amigos mais próximos. Ela não consegue decidir se deve cair em seus braços ou correr e se esconder. E quando ela tenta buscar algumas respostas, ela se encontra perto de uma verdade que é mais perturbadora do que qualquer coisa que Patch a faça sentir.Porque Nora está bem no meio de uma antiga batalha entre os imortais e aqueles que sucumbiram - e, quando se trata de escolher lados,a escolha errada custará a sua vida.

Créditos:Comunidade Traduções Fromhell

[http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=25399156]
Tradução: Juliana Dias
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=2713339427589710285]
Tradução: Ana Paula Bacelar
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=12430107261961843307]
Tradução: Mariana Dal Chico
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=5298624630443160772]
Tradução: Márcia
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=17768937139985545486]
Revisão: Carla Ferreira
[http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=4119344552745363491]